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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

eisFluências de Fevereiro de 2012 - Suplemento





Sinagoga Kahal Zur Israel
por Mercêdes Pordeus

No próximo dezoito de março será mais um DIA NACIONAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA e para entendermos melhor sobre a presença judaica no Brasil e mais especificamente em Pernambuco até o governo holandês, por isso abordamos o tema e falamos também sobre a Primeira sinagoga das Américas, localizada no Recife.
Em primeiro lugar, transcrevo o texto do historiador Leonardo Dantas da Silva, nascido no Recife.


UMA COMUNIDADE JUDAICA NA AMÉRICA PORTUGUESA
Leonardo Dantas Silva [(*)]
(publicação do texto, autorizado pelo autor)

Perseguidos pela Inquisição, os judeus, disfarçados em cristãos-novos, tentavam estabelecer-se no Brasil onde, em algumas partes, detinham 14% da população economicamente ativa. Quando da Dominação Holandesa (1630-1654), a comunidade do Recife veio a ser conhecida internacionalmente, sendo o seu passado objeto do interesse dos estudiosos dos nossos dias. A importância dos cristãos-novos e judeus na formação do Brasil colonial é estudada, de forma pioneira, pelo Prof. José Antônio Gonsalves de Mello, a partir da publicação de Tempo dos Flamengos - Influenciada ocupação holandesa na vida e na cultura do Norte do Brasil (1947) e de forma mais pormenorizada em Gente da Nação - Cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1642-1654, Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1989; 2ª ed. Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1996.

Da Espanha para o mundo

Quando em 1492 os Reis Católicos de Espanha, Isabel e Fernando de Aragão, vieram a expulsar os judeus sefardins do seu território, parte das famílias transferiu-se para Portugal. A paz durou pouco, pois já em 1497, D. Manuel, Rei de Portugal, obrigou o batismo cristão de todos os judeus, criando assim a figura do cristão-novo, determinando a expulsão daqueles que não viessem a adotar a religião católica romana. Assim, segregados em determinadas áreas urbanas e obrigados a adotar uma nova religião, os judeus permaneceram em terras do Portugal continental e em terras de além-mar, alguns praticando às escondidas rituais da Lei Mosaica, até 1536, quando da implantação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. Temendo o poder da Inquisição, responsável por milhares de vítimas quando de sua atuação na Espanha, a gente da nação, como também eram chamados os judeus, iniciou a sua dispersão em busca de outras terras. Em 1537, Carlos V autorizou a instalação de alguns deles em Antuérpia; em 1550, Henrique V, de França, permite o estabelecimento de homens de negócios e "outros portugueses cristãos-novos" [sic] em cidades francesas, dando assim origem aos grupos conversos de Bordéus, Baiona, Tolosa, Nantes, Ruão; que só viriam a ser reconhecidos como membros da comunidade judaica no séc. XVIII. Na década de 1590, iniciou-se a migração da França para Hamburgo e Amsterdam, cidades onde vieram a se fixar. Outros, porém, movidos pela aventura e pela possibilidade de enriquecimento fácil, vieram tentar a sorte no Brasil, onde chegaram a integrar uma considerável parte da população, estimada em 14% na capitania de Pernambuco. (clique na revista para ler a continuação)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

eisFluências de Fevereiro de 2012



ESCOLA, FAMÍLIA E CULTURA
por Carlos Lúcio Gontijo

As escolas, mais que nunca, precisam inserir as famílias no processo educacional como meio de ao menos alcançar alguma diminuição no avanço do nível de rebeldia e agressão por parte dos adolescentes. As análises dos estudiosos e técnicos que lidam com dados relativos à violência no ambiente escolar sugerem que, antes de ser vistos como simples casos de polícia, problemas como droga e demais transgressões cometidas por crianças e adolescentes devem, numa primeira fase, ser tratados como questões pelas quais as escolas e as famílias precisam responsabilizar-se.
Logicamente, para abraçar essa exigência, a estrutura escolar necessita equipar-se adequadamente, com quadros suficientes de psicólogos e assistentes sociais, que tenham condições de dialogar com os lares dos quais provêm os alunos com problemas de comportamento ou dificuldade de aprendizado, uma vez que os professores e as escolas não podem ser utilizados como substitutos ou tomar o lugar de pai e mãe, que não raro visualizam a entidade escolar como depósito de crianças e adolescentes com as quais não conseguem ou não têm tempo de lidar.
O trabalho psicopedagógico com estudantes flagrados usando drogas no entorno ou mesmo no interior de instituições de ensino merece uma avaliação mais abrangente e multidisciplinar, envolvendo psicólogos, professores e pais, pois que é notória a percepção de que, quase sempre, os jovens usuários de drogas não são apenas jovens de lares desestruturados, mas indivíduos que vivem em ambientes nos quais impera o diálogo familiar ruim, em que é cada vez mais comum pai e mãe trabalharem para o sustento material dos filhos, ficando sem o tempo necessário para o estreitamento dos laços afetivos de compreensão, confiança, respeito e amizade, o que leva os lares a ser constituídos por estranhos que moram sob o mesmo teto. E, convenhamos, o simples apelo à força da consanguinidade pouco vale nesses casos!
Todavia é bom que nos lembremos de que educação e cultura no Brasil sempre foram áreas desprezadas e mal administradas ou tratadas como de menor relevo, apesar de todas as autoridades constituídas terem pleno conhecimento de que o país não chegará a lugar algum se não coadunar o crescimento da economia com a evolução do nível educacional de sua gente. Se assim não se der, o Brasil jamais passará de nação rica com povo pobre, porque sempre haverá bolsões de miseráveis e cidadãos incapazes de cuidar de si mesmos, exatamente pela letargia advinda da ignorância e falta de discernimento. A explícita realidade é que não existe nada mais dispendioso para o Estado que o cidadão desprovido de escolaridade e conhecimento suficiente em face das exigências do mercado de trabalho cada vez mais informatizado.
Quem como nós se entrega ao exercício da literatura e do jornalismo assiste à crescente escassez de leitores, num panorama tortuoso e de difícil saída, principalmente quando nos deparamos com caderno de cultura da importância de um jornal “Globo”, desperdiçando o precioso espaço de seu site para mesurar quantas vezes as “meninas” do Big Brother Brasil de 2011 se masturbaram no transcorrer do educativo programa. Não há como envidar esforços em prol da educação em meio a tantos fatores de deseducação dessa magnitude.
O povo brasileiro (todos nós) está à espera da inauguração de uma escola assentada em ensino democrático, onde a comunidade escolar seja protegida pela prática de conceitos didático-pedagógicos modernos, ministrados por professores bem remunerados e em constante reciclagem. Somente dessa maneira nosso sistema de ensino será capaz de transmitir conteúdo didático e lições de solidariedade e amor ao próximo, que ficarão fixados na mente dos estudantes através da harmônica sintonia entre instituições de ensino e pais de alunos, numa interação que, mais que salvar jovens da ignorância, os afastará da delinquência proveniente do poder de cooptação praticado pelos inescrupulosos agentes do narcotráfico, que tão bem sabem tirar proveito da falta de união, compromisso social, senso coletivo e congraçamento da chamada sociedade organizada.

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista

domingo, 12 de fevereiro de 2012

eisFluências de Dezembro de 2011 - Suplemento



DEVANEIOS NATALINOS
Conto de Ary Franco
         
Durante a noite sou despertado por uma luz intensa que invadiu o quarto em que dormia. O relógio digital sobre a mesinha de cabeceira marcava 2:34h.
Assusto-me ao ver um homem, estranhamente vestido, envolto em um manto, sentado ao pé da minha cama e um menino de uns quatorze anos, em pé atrás dele. Sinto que aquela figura me é familiar, muito embora, nunca tenha sido bom fisionomista. Faço menção de sentar-me mas não consigo e, ao mesmo tempo, quero indagar, quem é você? O que o senhor faz aqui no meu quarto? Mas minha voz não sai.
Para surpresa minha, a pessoa responde-me, sem pronunciar uma única palavra:
– Nada temas. Vim em paz, para visitar-te. Chamo-me Jesus, sou teu irmão, portanto, não me trates por senhor.
Atônito, paralisado, ouço ao lado minha esposa ressonando, alheia ao que estava se passando.
– Jesus... Cristo? E quem é este menino atrás do senh.. de você?
– Este é o teu protetor. Acompanha-te desde que nascestes e costumas chamá-lo de anjo da guarda, em tuas orações.
– Mas ele não tem asas! Ambos sorriem e continuamos falando-nos, sem palavras proferidas, apenas em pensamentos transmitidos telepaticamente.
– Já que não voas, para acompanhar-te ele não necessita de asas!
– A que devo sua sublime visita, se és realmente quem dizes ser?
– Como já expliquei, vim visitar-te. Aproveito para pedir que intensifiques as ajudas que prestas ao próximo. Sei que podes fazer mais do que tens feito. Quando fores chamado pelo Nosso Pai é preciso que carregues em tua bagagem apenas coisas leves, importantes e essenciais que facilitem tua subida até Ele. Enche-a de amor, benevolência, perdão, caridade, carinho, solidariedade, humildade, bondade, auxilia teus irmãos mais carentes e necessitados. Não leves contigo rancor, ambição, ódio, vingança, revolta, egoísmo, desprezo, ingratidão, orgulho, indiferença. Livra-te de todos esses sentimentos pesados, negativos e pecaminosos, que só servirão para dificultar tua última viagem em ascensão a Deus Nosso Pai.
– Prometo, doravante, proceder como você diz e quero aproveitar para dar-lhe parabéns pelo seu aniversário que será comemorado, agora neste dia 25 de dezembro.
– Que ele seja por ti comemorado mas dividindo tuas alegrias com os nossos irmãos enfermos e carentes. Agora terei que ir para fazer outras visitas. Contigo permanecerá teu Anjo da Guarda, como costumas chamar.
A escuridão voltou ao quarto e eu corri para trancar-me no banheiro e chorar profusamente. Foi um pranto silencioso abafado pela emoção e afogado em lágrimas que adoçaram minha boca ao por ela passarem.
Para não fazer barulho, algum tempo depois, recomposto, voltei descalço para a cama, deixando meus chinelos no banheiro. Virando a cabeça no travesseiro, vi que o relógio digital mostrava-me as mesmas 2:34h que tinha visto, quando da aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, entendi que nada daquilo havia acontecido, a prova evidente era a hora indicada no relógio. Virei-me para o lado e consegui conciliar meu sono, embalado pelo lindo sonho que acabara de ter e que havia me despertado, mas que nem da cama havia eu me levantado.
Só que um arrepio percorreu meu corpo, ao acordar no raiar do dia: MEUS CHINELOS ESTAVAM NO BANHEIRO! Prostrei-me de joelhos em fervorosa oração!

Ary Franco
Poeta e contista
RN/BR 


eisFluências de Dezembro de 2011



AS CARACTERÍSTICAS DA ARTE MODERNA
Por Clóvis Campêlo

Segundo José Guilherme Merquior no livro "Formalismo e tradição moderna: o problema da arte na crise da cultura", de 1974, é dentro da própria consciência geradora do saber da cultura ocidental que a estética moderna encontrará campo para dar vazão ao sentimento de insatisfação que a invade. Mostra-nos o autor que nada "poderia ser mais eloquente do que a simples menção da influência de duas ciências humanas na arte moderna: a psicanálise e a antopologia". E ambas se prestam a esse papel por provocarem constantes "deslocamentos" no pensamento que as gerou. Assim, munidos de novos "instrumentos", os artistas modernos encontram condições de manifestar a negação e a perplexidade da arte em relação aos caminhos dos tempos contemporâneos. Valorizando os impulsos libertários do inconsciente, bloqueados pela ética do pensamento conservador, os modernos passam a salientar o "caráter repressivo do princípio da realidade" como uma limitação às possibilidades vitais do homem. Assumem, desse modo, uma postura "vocacionalmente surrealista", instalando, no bojo do seu pensamento, a "mística da liberdade espiritual", fonte da contracultura de vanguarda no final do século passado.
A desconfiança da arte moderna ante os valores da cultura ocidental faz com que, juntamente com a vontade de ruptura cultural, desenvolva-se, na primeira, uma tendência ao hermetismo. Tal tendência intensifica o isolacionismo cultivado pelo artista a partir do pós-romantismo, afastando, com desdém, a estética moderna das massas (muito embora estas se mostrem cada vez mais alfabetizadas) e encaminhando a arte moderna para uns postura semântica elitista. O poeta moderno cerca de obstáculos o acesso ao significado da mensagem poética e, almejando alcançar um público seleto, cria obras que jogam com significados incertos, esquivos e obscuros.
Por compreender que o fácil entendimento das obras significa a banalização e a alienação da informação (tal assertiva torna-se interessante em um mundo caracterizado pela "democratização" da informação e pela proliferação do simulacro enquanto meio de consciência cósmica, ao mesmo tempo em que serve para desnudar mais um aspecto contraditório das artes modernas), o bardo moderno envereda por caminhos esotéricos e inusitados (mudança quanto ao conteúdo), enquanto adota contra a linguagem comum (alteração quanto à forma) o que Ramon Jakobson, numa tentativa de definir a literatura sob a ótica dos formalistas, classificou como "violência organizada".
Concomitantemente a esse movimento de afastamento das massas verificado na estética moderna, a arte de vanguarda experimenta uma "universalização dos horizontes mentais", estabelecendo entre os artistas modernos uma comunicabilidade definitivamente diluidora do sentimento de "cor local" dos românticos e que, transcendendo as nacionalidades, provoca o cruzamento de temas e estilos, em que pese cada literatura estar irremediavelmente ligada ao espírito da sua língua.
Desse modo, segundo a ótica de Merquior, são quatro os movimentos que caracterizam a passagem da arte romântica para a arte moderna: a mudança de uma concepção mágica de arte para uma concepção lúdica, desdobrada em visão grotesca (jogo quanto ao conteúdo) e experimentalismo (jogo quanto à forma); transformação da oposição cultural romântica em ruptura; afastamento das grandes massas e tendência para o hermetismo, e, encaminhamento da poética atual para o cosmopolitismo e para um futuro planetário.
No entanto, se o primeiro movimento faz com que a arte moderna manifeste uma saudável tendência de revigoramento e renovação, ao mesmo tempo em que nega os valores culturais que contradizem a afirmação humana, tendência essa confirmada no movimento de ruptura (afastamento), o terceiro movimento (elitização e hermetismo) é contraditório e caminha em sentido inverso aos anteriores. Por seu lado, o quarto movimento (cosmopolitismo) parece nos indicar que a grande arte, perdida a sua função mágica e situada em uma cultura de massa onde prevalece a divisão de classes (característica supranacional), exercita essa permeabilização universalista como forma de uma adaptação necessária à sua sobrevivência.
Para finalizar, consideremos que o conceito de arte moderna, ainda segundo Merquior, prende-se muito mais aos fatores internos observados nas obras de arte do que a sua contemporaneidade. Tal fato se deve a permanência, ainda hoje, na tradição da arte moderna de elementos românticos não submetidos ao novo estilo e que atuam como fatores de estreitamento e de enfraquecimento da arte moderna, reduzindo a sua capacidade de elaboração de uma crítica da cultura e diminuindo a sua energia criadora. Dessa maneira, nem toda a arte contemporânea pode ser considerada "arte moderna", assim como podemos estabelecer a existência de diversos graus de "modernidade".

Clóvis Campêlo
Recife/Br


eisFluências de Outubro de 2011



DOIS ANOS
Dois anos de eisFluências.

Dois anos onde pusemos as nossas esperanças e o nosso amor à arte da divulgação cultural.
Dois anos em que procurámos incansavelmente, oferecer ao leitor o que de melhor há em literatura, pesquisando meios desconhecidos do publico leitor, e enfrentando as dificuldades inerentes a qualquer revista, para obtermos o prazer final da edição que vá agradar a quem nos lê.
Podemos parecer presunçosos, mas se analisarmos profundamente cada revista, desde a primeira edição, veremos  como a cada edição fomos crescendo, não só na aparência, como no conteúdo.
Foi um começar atabalhoado, próprio de qualquer revista nova que se dá à estampa, e somente na continuação se foram firmando os nossos quereres.
A Direção da revista eisFluências, bem como os seus autores coadjuvantes,  é composta por pessoas que amam a literatura, amam a poesia e as artes em geral e, sobretudo, gostam de partilhar conhecimentos.
É na partilha de conhecimentos que reside o maior bem da humanidade e sem essa partilha ainda hoje dormiríamos na idade da pedra.
Todos sabemos que a internet nos abriu perspectivas nunca antes imagináveis e que através dela tomámos vários poderes, inclusive o da divulgação literária.
Mas muitas pessoas ainda não têm acesso a este bem maior, por isso a eisFluências desde o seu primeiro número preocupou-se em transmitir o conhecimento a pessoas privadas desse acesso, imprimindo cem exemplares para distribuir por órgãos ligados à cultura.
Tarefa difícil, se pensarmos que a impressão desses exemplares sai do orçamento familiar de quem faz a revista e, por isso, em Agosto, a revista no seu site http://eisfluencias.ecosdapoesia.org/ lançou a campanha “Doações” .
Entretanto, temos tido gratas surpresas, como a de chegarmos a consultórios e vermos várias revistas eisFluências expostas, para quem as quiser ler enquanto espera a solução para os seus males.
Certo dia, num consultório, uma pessoa que lia quase que avidamente a revista, comentou connosco (sem saber quem éramos) a utilidade do acesso gratuito à cultura, num consultório onde geralmente só se encontram revistas sem valor cultural.
Isso levou-nos a pensar, mais uma vez, que as pessoas têm avidez de cultura e só não acessam a ela porque a selva da cidade não deixa, nem a dispõe em locais de fácil acesso. Aqueles locais onde o público tem de parar obrigatoriamente e onde a maioria das vezes cochila ou vê os defeitos do teto, ou aprecia intimamente o modo de vestir de cada um, sem ter algo mais para percorrer com os olhos, sem ter uma revista que lhe dê algo diferente.
Isto é, também, caro leitor, a nossa (vossa) revista eisFluências.
A eisFluências procura chegar aonde a cultura não chega e pretende ser um órgão de divulgação, competente e multifacetada, igualmente para estes leitores, da cultura mais afastados.
Muito, mas mesmo muito, há a fazer ainda, assim Deus o permita.
É com orgulho, muita fé e perseverança que chegámos aqui e queremos continuar, pelo menos com mais um zero à frente do dois, (?) e se a vida não nos permitir, outros que o façam por nós, mas com a mesma seriedade, amor e competência.
Contamos consigo, estimado leitor, e para o ano cá estaremos, se Deus quiser, para comemorarmos juntos mais um aniversário.
Para todos uma boa leitura

Victor Jerónimo
Director da revista eisFluências
Recife/Brasil
Lisboa/Portugal

eisFluências de Agosto de 2011



O HOMEM E A FLOR DO IPÊ AMARELO
Luiz Poeta
( Luiz Gilberto de Barros ) – às 18 h e 52 min do dia 22 de julho de 2011 do Rio de Janeiro, especialmente para a revista eisFluências.

O modestíssimo  homem caminhava pela cidade, levando uma flor... pela mão.
Não era uma flor qualquer...era uma flor de ipê amarelo, que o acompanhava e ria para o pudico sorriso de uma pessoa apenas preocupada em misturar fantasias com reflexões.
Seguindo cada passo que ambos davam, os passarinhos pulavam de galho em galho, de fio em fio, entoando cantos que contrastavam com os rumores metropolitanos. E para completar sinestesias paralelas, borboletas multicoloridas emolduravam aquele momento único, desfilando vangogues dentro dos olhos da flor e dos sonhos do homem.
Os indivíduos que estavam em frente à banca de jornais situada no coração da praça, ou que tomavam suas bebidas matinais, olecraniados nos balcões das padarias e bares, e que taquicardiavam conversas ruidosamente gesticuladas, os condutores dos ônibus lotados de pressas e reclamações,  os motoristas de veículos particulares transitando confortos de pendrives plugando canções sonolentas, e todos quantos ali estavam, celebrando a fisiologia da vida,  pararam para olhar a inusitada imagem daquele homem simplório  conduzindo  uma magnífica flor de ipê amarelo... pela mão.
Não se sabia definir quem era mais louco: o homem com a flor, a flor com o homem, o padre que se benzera, o ciclista que caíra sobre uma freira orando, ao celular, o bêbado que raciocinara, o policial que se auto-algemara, a vocalize que silenciara, o capitalista  que se engravatara a um filósofo da plebe rude, espremidos, todos, unissonamente boquiabrindo sussurros, estarrecidos diante daquela inefável cena que se movimentava na ternura ótica dos que ainda sonambulam lirismos diurnos, observando algum resquício de poesia nos jardins de uma praça espremida entre sombras arquitetônicas que se esgueiram de prédios absurdamente monumentais.
O homem era pequenino, esquálido, compulsivamente feliz, gengivando sorrisos no espasmo das mais tenras e ternas alegrias... a sedutora flor apenas dourava o ambiente, despetalando taciturnas seduções, e  distraindo-se com a simpaticíssima e bucólica solidão humana que tornava aquele cidadão, mais que gente, uma outra alma... de flor.
Súbita, abrupta e repentinamente, como consequência daquele êxtase coletivo de olhares perdidos, mirando um simples homem e uma flor humanizada,  inúmeras freadas sonorizaram pequenas tragédias metropolitanas: colisões traseiras e dianteiras... sons de buzinas, sirenes, motores, berros, agressões verbais vocativando pornofonias...   viaturas policiais ecoando advertências, ambulâncias escavando estrias territoriais no trânsito congestionado que estuprava calmarias... todos se modificaram, tornando-se  descontroladamente irritados, desvairadamente estressados... mas todos sabiam quem eram os culpados ! O homem e a flor de ipê amarelo !
E era preciso puni-los, madalenizá-los, agredi-los, linchá-los... matá-los ! Exterminá-los da agitação das calçadas impregnadas de fumaça e odores peculiarmente urbanos...
Os grupos foram se avolumando, organizando-se numa trôpega multidão entorpecida pela sede de vingança e que, a exemplo de alguns vermes que se deglutem, transformava-se em uma massa disforme de humanidade e densa de vorazes ameaças.
O descontrole era geral. Gritarias, buzinas, sirenes e roncos de motores tornavam-se mais estridentes ainda... decibéis estupravam silêncios. Todos empurravam-se, xingavam-se, agrediam-se física, psicológica e instintivamente...
Num átimo, tiros no ar, gente correndo, gritando, pisoteando-se, cachorros latindo, estridências, confusão e um súbito... silêncio .
Bebadamente gradativa, a calma tornou-se sonolenta e suprimiu cada eco que ainda pairava no ar, transformando-se numa paz profundamente metafísica... findos todos os ruídos humanos, mecânicos, instintivos ou fisiológicos, cada olhar voltou-se  definitivo, para uma inevitável direção.
Nela, o homem e a flor pareciam sublimar a leveza das suas derradeiras passadas, tornando inefáveis aqueles líricos minutos de um passeio eternizado em cada retina perdida em trôpegas abstrações transcendentais.
Numa última, inequívoca e sublime troca de olhares, suas atitudes não careciam de palavras.
Ele deitou-se num banco de concreto, suspirou seu último sorriso e adormeceu, polinizando eternos devaneios. Seus olhos nebulosamente azuis desmaiaram sobre a  mansidão amarela de uma flor de ipê...
Delicadamente, uma tênue brisa acariciou, uma a uma, todas as pétalas que bailaram no ar, polinizando,  com afetuosa generosidade, o encantamento dos velhinhos que ainda sonham, a lúdica abstração das crianças que não conhecem o pecado e sobrenatural  pureza dos poetas que ainda voam, como pétalas... de ipês... amarelos.
_________________________
Rio de Janeiro/Br


eisFluências de Junho de 2011




Há um Gosto Amargo nas Flores
Ariovaldo Cavarzan

“Escrever prosa e poesia é como deixar marcas de passagem, através das trilhas da vida. Importa, vez ou outra, parar para respirar fundo, dar um tempo e admirar o quanto foi deixado à retaguarda, haurindo ali forças e esperanças para a continuidade da jornada.”  A.C.

Em meus tempos de menino, na ânsia de desvendar o mundo,deslumbrei-me ante o perfume e a formosura das flores que enfeitavam vasos, canteiros e jardins de minha casa, tentando identificar-lhes o perfume e o gosto, aprendendo a apreciá-las em sua diversidade de cores, fragrâncias e beleza.
Os sabores eram quase iguais, diferenciados apenas por um toque que ia do amargo puro ao agridoce, com maior ou menor intensidade, embora seus cheiros as tornassem inconfundíveis.
Mas, o olfato, o paladar e a mente de menino, acabaram guardando mais que as simples nuanças perceptíveis aos sentidos.
Aprenderam que as variáveis amargas dos sumos que se esparramavam pelo interior da boca, mostravam-se a mais inesquecível de todas as descobertas.
 Gravaram a verdadeira identidade de cada espécie.
Eram rosas, margaridas, lírios, malmequeres, dálias, girassóis, cravos, violetas, bocas de leão, copos de leite, açucenas, primaveras e flores do campo.
Algumas floresciam em hastes de espinhos, outras se esparramavam no chão, como se fossem tapetes.
A cada nova surpresa, minha mente de menino guardava uma valiosa lição, cujos significados verdadeiros passo a entender agora, em plena fase madura, transportando-os para minha vida cotidiana.
Não devemos nos encantar apenas com as aparências de flores e pessoas.
Importa sentir-lhes o cheiro; conhecer-lhes o sabor; descobrir-lhes a identidade mais íntima; conviver com elas, para entender que, embora algumas se apresentem presas a hastes de espinhos, 
também podem mostrar-se formosas e perfumadas. 
E há ainda aquelas outras que se espalham no chão,  como se fossem tapetes, sem perder a dignidade e a formosura.
Mas todas guardam dentro de si seus verdadeiros cheiros e sabores, nem sempre doces, nem sempre perfumados,com variáveis nuanças mais ou menos amargas, tão somente à espera de um novo despertar da curiosidade de um menino, com muita vontade de desvendar mistérios e peculiaridades escondidas.
O tempo se encarregará de revelar cada conformação, cada haste em que se assenta  uma pessoa, ou uma flor, espinhadas ou não, ou a terra fofa e generosa que lhes prendem os pés.  
Exibirá, por fim,  suas particularidades interiores, suas cores,seus sabores, sua beleza, seu perfume, seus humores, sua espiritualidade e seus valores.
 Enfim, sua capacidade de encantar, embevecer, aceitar, compreender, renunciar, perdoar, acolher, pacificar, esperar, sonhar e amar...

Ariovaldo Cavarzan, Itapira – S.P/Brasil

eisFluências de Abril de 2011



NÃO SE DEIXE ILUDIR
José Geraldo Martinez

Ah! Minha amiga! Não se deixe iludir! Essas pessoas pessimistas que acham uma grande bobagem apaixonar-se, agora na terceira idade, estão sempre cercadas de um certo amargor de alma, provavelmente trazido de um passado distante. Afaste-se urgentemente e se faça de surda! Ama-se em qualquer idade e momento, apesar dos pessimistas e amargos sempre de plantão! O que, às vezes, falta é coragem de abrir as portas do coração e admitir-se amando! Pode observar! A pessoa tem uma certa timidez ou vergonha de confessar o amor que está sentindo e de passar por ridículo(a) diante da família e amigos. Sabe por quê? Lá no subconsciente, escuta ainda a voz dos pessimistas e isto ocorre na maioria das vezes dentro da própria família. Aliás, na maioria dos casos de separação, a própria família não dá qualquer tipo de apoio. Principalmente se você for mulher, que dirá, chegar um dia, você dizendo-se apaixonada? São estas regras que devem ser quebradas, é a síndrome da culpa, sem mesmo ter! Quebrar algumas regras na vida, faz grande diferença... Deixar de compensar os filhos apenas porque saiu para dançar ou porque arrumou um namorado! Não adianta, eles filhos, muitas vezes já criados e pais até, não imaginam que a mãe tenha tesão, fantasias, prazer, sonhos! Isso lembra aquela coisa de primeira professora... a gente imaginava quase uma deusa, que não comia, não peidava, não chorava, não sentia... Uma quase robô que a gente admirava acima de tudo, a ponto de querermos, muitas vezes, até se casar com ela(e)! São esses mesmos filhos, raras exceções, os tais pessimistas e agourentos, que ainda enxergam na mãe a santa de sempre, além de alguns amigos e a família hipócrita que a abandona de pronto em sua primeira crise conjugal. Isto é o suficiente para medos futuros. Daí a importância de quebrar algumas regras ou vai querer ficar eternamente apaixonado(a) pelo seu(sua) professor(a) de primeiro ano? Nossa! Aquela louca com um rapaz bem mais jovem ou vice-versa! E daí? Que homem feio a fulana arrumou e ainda é motorista de táxi!
Como se para amar alguém a gente tenha que pedir currículo ou que tenha participado de algum concurso de beleza! Gente, "as regras existem para serem quebradas"! O que é feio ou bonito se olhado por quem está amando? O amor real tem algumas coisas parecidas com o virtual. Ama-se sem ver o rosto, percebe-se apenas a alma! Falando nisso, quantas(os) não quebraram as tais regras no virtual e ficaram apenas por ali? Triste não é? Da mesma forma quantos fizeram do virtual um ensaio e saíram para o real e estão felizes! Não é raro vermos alguém correndo para frente da televisão, no momento da novela e ficar com os olhinhos vidrados na grande trama amorosa de alguma cena. Triste, não? Você poderia estar fazendo a sua própria novela e nem precisaria de qualquer produtor... O destino estaria encarregado de montar o palco e convidar o personagem!
Basta você dar o primeiro passo, iniciar a primeira cena... quebrando uma regra e aguardar por capítulos de pura emoção! Ainda que o final não tenha sido aquele que você desejou... E dai? Você é a produtora da sua vida e, com certeza, um dia escreverá um final feliz! Pelo menos tentou!

José Geraldo Martinez
Araçatuba - 09/7/2007

eisFluências de Fevereiro de 2011 - Suplemento




ARRUAR POR UM RECIFE HISTÓRICO, CULTURAL E POÉTICO
Pela passagem dos 474 anos do aniversário do Recife

Reportagem escrita e realizada por Mercêdes Pordeus

Recife que canta e encanta quem nele vive e os que o visitam levando consigo a impressão de uma cidade lendária, rica em tradições, porém que a partir delas também se moderniza.
O Recife fala por si só.
 Como?
Vou lhes dizer:
Recife fala através dos seus rios, das suas pontes (que sobre eles tecem um lindo visual ), suas praças, igrejas e teatros...da poesia, desde a popular e livre aquela que está escrita de modo colorida nos seus muros, como se não fosse suficiente se despir para seus transeuntes através dos poetas consagrados que o cantaram em versos e prosa.
Poetas e escritores, muitos já não estão entre nós, porém deixaram como legado um grande acervo que consiste num hino de amor a cidade.
A poesia popular, os cordéis enaltecem o Recife e um dia se tornarão, através da sua continuidade, grande contribuição para as gerações futuras.
Andar pelas ruas do Recife é respirar história, sentir pairar no ar a poesia, reviver um passado de glória e nesse contexto ingressar num mundo real X ilusório.
Recife histórico, lendário com suas lutas de ideais libertários constantes, dentre elas: A Revolução de 1817 e a Confederação do Equador em 1824.
Seu primeiro registro histórico aconteceu em 12 de março de 1537.
Na ocasião desse registro, deu donatário, Duarte Coelho Pereira, recebeu a Carta de Doação da Coroa Portuguesa: Foral de Olinda, nessa carta o lugar era denominado de ancoradouro de navios, onde mais tarde um lugarejo originaria a capital de Pernambuco. No início do século XVII o Recife possuía cerca de 40 casas apenas, as quais se localizavam sobre o istmo que ligava Olinda a Recife. O istmo apresentava pouca largura sendo banhado por um lado pelo mar e outro o Rio Beberibe.
Em 1630 Recife foi invadido pelos holandeses, que inicialmente tomaram Olinda, seguindo para o Recife.
Com eles vieram muitos judeus, que fugiam da perseguição religiosa e juntaram-se aos cristãos novos que já tinham migrado para o Brasil.
Ali estabelecidos deram início ao processo de aterro do Rio Beberibe e sobre esse aterro começaram a edificar prédios, tais como, habitações, lojas. Armazéns, etc.
Essa rua que hoje se chama Bom Jesus, na época era conhecida como Rua dos Judeus.
Em uma destas casas instalaram uma sinagoga, a Kahal Zur Israel (Rochedo de Israel), foi a primeira criada nas Américas e tinha primazia sobre as demais que foram criadas em seguida.
Com a expulsão dos holandeses em 1654 a sinagoga foi desativada e muitos judeus saíram do Recife, seguiram para a Nova Amsterdam, que deu origem a New York.
Recife tornou-se cidade em 1823 e capital de Pernambuco em 1827, foi palco de muitas revoluções sangrentas, marcadas por lutas políticas, mas aos poucos talvez como consequência, foi se modernizando.
Não vou me deter muito na nossa história, pois a encontramos nos livros, nas consultas em internet.
O que eu gostaria mesmo de lhes mostrar como é o Recife atual no seu cotidiano.
Violência? Pobreza? Sim nela existem, mas qual cidade ou capital do Brasil está livre delas? Na melhor das hipóteses, diariamente com o êxodo rural aglomeram-se pessoas nas cidades fugindo das dificuldades, como a seca, por exemplo, em busca de uma "vida melhor" e despreparadas acabam por se amontoarem sem chances de emprego.
Outro problema: a falta de emprego não só no Recife pessoas que receberam uma boa educação formal sofrem a falta deste, quanto mais aqueles que não tiveram chances na vida.
Em decorrência desses problemas, dentre outras realidades, vão surgindo outros.
Contudo, não é problema só na nossa cidade, mas no país em geral,  e isso ocorre também no exterior.
Por isso digo: Recife é uma cidade como outra qualquer do país, mas tem seus valores, suas belezas, tem sua memória, pois não é uma cidade sem história.
Recife. Rio Capibaribe presente e cantados em versos e prosa que por vezes acolhe como reflexo as imagens de lindos casarios em suas águas, como na Rua da Aurora, por exemplo. Que foi uma constante na vida de Manuel Bandeira.
Hoje ele ficaria feliz por ver que as Ruas da Aurora, da União, da Saudade e do Sol, permaneceram com os mesmos nomes, continuam lindos os nomes de suas ruas de sua cidade, e não se chamam Dr. Fulano de Tal.

Por que o Recife e não Recife?
Transcrevo um texto de uma linda obra  cujo título é
ARRUANDO PELO RECIFE de Leonardo Dantas da Silva
SEBRAE 2000.

eisFluências de Fevereiro de 2011




Jornais sem espaço para a cultura
por Carlos Lúcio Gontijo

       Os índices de leitura são baixos e vão continuar assim por muito tempo no Brasil, caso nossas escolas permaneçam assentadas sobre as mesmas estruturas pedagógicas educacionais. Nossos grandes jornais, que deveriam usar a sua influência para exigir projeto educacional capaz de democratizar o ensino de boa qualidade e didaticamente montado sob o objetivo de atender, por meio de linguagem adequada, à totalidade de sua clientela, em vez de apenas 20% dela – o que explica o gigantesco número de repetência e evasão escolar –, não lidam bem com o assunto e nem conseguem demonstrar na prática a sua propalada preocupação com o ensino, apesar de serem hoje drasticamente prejudicados pela falta de hábito e gosto pela leitura predominante na população.
       Metidos na visão estreita do corte de custos, os proprietários de mídia impressa resolveram extinguir o departamento de revisão, que na realidade funcionava como uma espécie de editoria final, livrando os jornais não apenas de muitos erros gramaticais e de ortografia, mas também de vários equívocos de informação. A esse procedimento podemos somar a arrogância dos meios de comunicação impressa (comportamento acompanhado pelos demais veículos) de se sentirem os donos da notícia, transformada por eles em simples questão de marketing, baseados unicamente no jogo comercial (e político) de seus interesses.
       A verdade insofismável é que esse procedimento desprovido de compromisso com a boa informação vinha, há tempos, provocando queda no estoque de leitores, mas não era muito sentido no faturamento dos jornais, pois os anunciantes ainda viam neles a influência do passado. Daí então surgiu a internet tirando-lhes o monopólio da notícia, e eles, atravessando desmesurada crise de identidade, se nos apresentam despreparados para ser o contraponto, uma vez que a divulgação inserida nos espaços virtuais sofre com a falta de credibilidade, cobrando do leitor o exercício de constante filtragem.
      No desespero, muitos jornais optaram por se transformar em tablóide, no qual é confundida a leveza jornalística com exposição de mulheres nuas, priorização sensacionalista da violência urbana em detrimento da análise e da opinião, dando origem a publicações que já chegam às ruas envelhecidas, ultrapassadas e sem qualquer atrativo.
       Em suma, uma vez nas bancas, os tablóides coloridos têm curto período de procura e venda, além de ser transformados em papel de embrulho no primeiro correr de olhos do leitor. Ou seja, não há neles matéria a ser revista (se a ideia era fazer um produto impresso absolutamente descartável, acertaram em cheio e não têm do que reclamar).
       Nosso falecido amigo jornalista Elias Maboub, que foi revisor por mais de 50 anos no mercado jornalístico de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, gostava de brincar conosco dizendo que “jornal sem revisão era a materialização do ato de fazer do erro a certeza do acerto...” Num ambiente assim, contrário ao prazer da leitura e ao indispensável momento de reflexão, tomados como fatores prejudiciais à moderna cultura de eventos e lazer, chega a ser ato de extrema ousadia a edição de livros no Brasil, onde são altos os custos gráficos, com a impressão se mantendo em patamares elevadíssimos, apesar de o governo ter retirado todos os impostos que incidiam sobre a produção literária, que pouco espaço tem nos jornais, onde a preocupação é tão-somente com as celebridades e os famosos, ainda que – exaustos, enfastiados e entediados –, nada tenham a nos dizer.    

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista

eisFluências de Dezembro de 2010 - Suplemento




FELIZ NATAL
Frei Betto

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história.
FELIZ NATAL aos infelizes cativos do desapreço ao próximo, da irremediável preguiça de amar, do zelo excessivo ao próprio ego. E aos semeadores de alvíssaras, aos glutões de premissas estéticas, aos fervorosos discípulos da ética.
Feliz Natal ao Brasil dos deserdados, às mulheres naufragadas em lágrimas, aos escravos do infortúnio condenados à morte precoce. E aos premiados pela loteria biológica, aos desmaquiadores de ilusões, aos inconsoláveis peregrinos da vicissitude.
Feliz Natal aos órfãos do mercado financeiro, pilotos de vôos sem asas e sem chão, fiéis devotos da onipotência do mercado, agora encerrados no impiedoso desabrigo de suas fortunas arruinadas. E também aos lavradores da insensatez espelhada na linguagem transmutada em arte.
Feliz Natal às lagartas temerosas de abandonar casulos, ao desborboletear de insignificâncias cultivadoras de ódios, aos exilados na irracionalidade do despautério consensual. E aos dessedentados na saciedade do infinito, no silêncio inefável, nas paixões condensadas em prestativa amorosidade.
Feliz Natal a quem escapa dos indomáveis pressupostos da lógica consumista, dessufoca-se em celebrações imantadas de deidade, livre do desconforto da troca compulsória de presentes prenhes de ausências. E aos hospedeiros de prenúncios do leque infinito de possibilidades da vida.
Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta, e coleciona no espírito aquarelas do arco-íris. E a quem trafega pelas vias interiores e não teme as curvas abissais da oração.
Feliz Natal aos devotos do silêncio recostados em leitos de hortênsias a bordar, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura. E a quem arranca das  cordas da dor melódicas esperanças.
Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa-dos-ventos e carregam no peito a saudade do futuro. Também a quem mergulha todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identifica a porta que os sentidos não vêem e a razão não alcança.
Feliz Natal aos dançarinos embalados pelos próprios sonhos, ourives sapienciais das artimanhas do desejo. E a quem ignora o alfabeto da vingança e não pisa na armadilha do desamor.
Feliz Natal a quem acorda todas as manhãs a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas a quebrar convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.
Feliz Natal a quem recolhe cacos de mágoas pelas ruas para atirá-los no lixo do olvido e se guarda no recanto da sobriedade. E a quem se resguarda em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.
Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar.
Feliz Natal aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores, aos escritores sem palavras. E a quem jamais encontrou a pessoa a quem declarar todo o amor que o fecunda em gravidez inefável.
Feliz Natal a quem, no leito de núpcias, promove despudorada liturgia eucarística, transubstancia o corpo em copo, inunda-se do vinho embriagador da perda de si no outro. E a quem corrige o equívoco do poeta e sabe que o amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno.
Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão, bordam toalhas de cumplicidades, secam lágrimas no consolo da fé, criam hipocampos em aquários de mistério.
Feliz Natal a quem se embebeda de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica e não receia se pronunciar onde a mentira costura bocas e enjaula consciências. E a quem voa inebriado pelo eco de profundas nostalgias e decifra enigmas sem revelar inconfidências; nu, abraça epifanias sob cachoeiras de magnólias.
Feliz Natal a todos que dão ouvidos à sinfonia cósmica e, nos salões da Via Láctea, bailam com os astros ao ritmo de siderais incertezas.
Queira Deus que renasçam com o menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios.

eisFluências de Dezembro de 2010




Não vou mais lavar os pratos por Cristiane Sobral. Athalaia: Brasília, 2010.
 Que título desafiador – penso eu, com o livro de Cristiane Sobral em mãos. – O que será: mais um manifesto feminista, que veio abalar os pilares do machismo global, ou tão somente o desabafo de uma dona de casa exasperada com a rotina do lar? Abro o livro, meio cético, e tropeço nas primeiras palavras lidas: “Não vou mais lavar os pratos / Nem vou limpar a poeira dos móveis. / Sinto muito. / Comecei a ler...” A curiosidade me invade, imperiosa, e, à medida que vou folheando as páginas, desdobra-se ante meus olhos um monólogo sóbrio, sincero e comovente da mulher moderna, uma daquelas mulheres que têm objetivos a alcançar e, mais que isso, sonhos a realizar. “Sonho a gente não aborta”, como diz a própria Cristiane. Sonho de amar e ser amada, de ter filhos, de construir uma casa sólida e aconchegante, de lograr êxito na esfera profissional; enfim, sonho de levar uma vida que não se limite a “carregar, de forma esquizofrênica, sua pasta executiva”, e seja, portanto, feliz em todas as suas dimensões. E o único modo de tornar esse sonho possível consiste em lutar por ele, agarrá-lo com unhas e dentes, revelar-se, mesmo em detrimento de sua natureza feminina, uma verdadeira guerreira Nzinga do poema homônimo, “rainha digna de exaltação”. Assim sendo, a proposta literária de Cristiane parece trivial: que mulher não queria, nos dias de hoje, conquistar seu espaço inalienável neste mundo criado e governado por homens sem, todavia, depender de nenhum deles? Parece, mas não é! A poetisa tem suas armas para combater os presumíveis clichês do conteúdo, e usa-as com muita habilidade.
Antes de tudo, Cristiane Sobral é irônica. Ela não se contenta com meras reproduções da realidade, mas interpreta diversas facetas desta sob a mesma ótica desprovida de qualquer pieguice. A solidão intrínseca dos habitantes de uma metrópole – seja o exuberante Rio de Janeiro, em que a autora nasceu, ou a geométrica Brasília, onde mora atualmente – (Eva), a miséria coletiva que passa de geração em geração, dando início às explosões da violência urbana (Carma), os múltiplos e inextirpáveis preconceitos da sociedade consumista (Algodão Black Power) – nada escapa desse olhar penetrante e amargurado de quem conhece a vida tal como ela é. Até um beijo de língua a misturar os efêmeros sabores luso e francês num metafórico Porto 6 deixa o campo das convenções eróticas para integrar o quadro ludicamente ambíguo de nosso cotidiano. E aí me recordo da máxima de Heinrich Heine: não sei onde termina a ironia e começa o céu! Cristiane faz alusões, distribui piscadelas, provoca o leitor, brinca com ele e sempre o deixa numa dúvida cruel: é essa a nossa civilização, é desse jeito nós todos vivemos?
A poesia de Cristiane Sobral tem outro aspecto de igual importância: a negritude. Essa vertente artística, que remonta às obras do mítico senegalês Léopold Senghor e do grande haitiano René Depestre, muitas vezes fica à margem da cultura oficial brasileira. A poetisa define-a como ”um quarto escuro (...) onde ninguém quer entrar” (Cuidado), e, ao juntar-se ao imenso coro dos partidários da negritude, a voz dela se destaca tanto pela singularidade da entonação lírica como pelo trágico realismo de suas canções. A afrodescendência não se associa, para ela, à cor da pele, mas sim – e principalmente! – à identidade histórica e cultural. Senzala, pixaim, banzo, capitão do mato e outros espectros, que Cristiane evoca nos seus poemas mais incisivos, não são reminiscências do passado remoto e esquecido, mas pormenores chocantes da atualidade atávica. “Ainda não somos livres!” – exclama ela com indignação (Ainda?) e conclui, melancólica: “... depois de tanto tempo!”
Aliás, seria injusto reduzir o mundo poético de Cristiane Sobral ao feminismo e à africanidade. Há nele motivos sentimentais e satíricos, há lágrimas e sorrisos, há males descritos e remédios prescritos. Ao esboçar o retrato espiritual da mulher brasileira e tocar na melindrosa questão racial, a poetisa está prestes a ir muito além desses próximos horizontes. Aonde? É o tempo que nos dirá isso.

Finalizando, aproveito a ocasião para desejar-vos, meus caros leitores, Feliz Natal e Próspero Ano Novo. Muita paz e felicidade para todos vós, e que as boas magias do amor humano vos acompanhem por toda parte, nesse ano de 2011. Como diz a sagacidade francesa: Au gui l’An neuf!

Oleg Almeida

eisFluências de Outubro de 2010



Overdose: A importante troca de informações 
Por:- Elizabeth Misciasci.

- “Meu filho não assiste à TV. Hoje, aliás, nem TV em casa tem mais...”
Triste realidade!

Ana encostada na janela da saleta olha ao redor, enxuga as lágrimas e num silencio que revela tudo o que as palavras não conseguiriam definir, encerra seu relato e todo o drama vivido com Adilson, seu filho de 16 anos, dependente e usuário compulsivo de craque.
Esta mãe lamentavelmente é apenas mais uma mulher (entre tantas outras mães, irmãs, esposas) que após ter lutado com todas as suas forças e ajudas possíveis, se vê em completo desconsolo no centro de uma avalanche... A ruína da família... Família esta, que tanto zelou procurando orientar e amparar. Porém, em razão da dependência química e uso constante da droga ilícita, que seu filho primogênito deixou-se “adotar” só consegue sentir cada vez mais distante o que ela conceitua como toda ilusão de recuperação. E conclui seu relato com uma simples e dorida frase: – “Apenas as luzes se apagaram de forma irreversível...” Pontua.
Não existe uma solução imediata que proporcione mudanças á curto prazo, regularize os desequilíbrios gerados, nem tão pouco, métodos milagrosos sem efeitos colaterais, que trate em 24 horas e resolva 100% dos casos, quando o assunto é “DROGAS”.
Se todo o medicamento exige controle, quem dirá os usuários de substâncias entorpecentes, pois não podemos esquecer que seus efeitos são subjetivos.
A pessoa viciada perde muitas vezes a noção do que é (ilegalmente falando) “ajuste de dosagem” e em determinadas situações, é impossível eliminar ou tratar os sintomas residuais, ou seja, o consumo exagerado, inevitavelmente, acaba (que deveria ser inexistente) provocando neste usuário, uma crise que chamamos aqui de “overdose”.
Óbvio, que não existe a “quantidade correta e benéfica”, no entanto, existe uma situação ainda pior:- “a dose perigosa e irreversível”. Em casos que este tipo de situação ocorre, necessita-se imediatamente da remoção desta pessoa para atendimento hospitalar de emergência (que é difícil ser providenciado e quando dado, é sempre demorado, pois o temor dos “parceiros” de “embalo” e todo o comprometimento que pode causar, somados as condições psicológicas e físicas dos “companheiros” inibem ou impedem a ajuda, ao encaminhamento médico necessário desta “vítima”). O socorro pode deixar de ser sério, longo ou correto... Simplesmente é tarde demais, findam-se os recursos, pois impossível o é, resgatar o que já se foi... A vida.
Quem já viveu situação semelhante, dificilmente aceita falar sobre o assunto, o que é compreensivelmente normal se analisar que além da tristeza e aborrecimento, a instabilidade emocional e a melancolia, não saem da alma jamais.
Cada um tem uma forma de reagir diante da gravidade e de todas as problemáticas que chegam junto com as DROGAS, que cada vez mais se alastra e atrai novos “consumidores”. Independente da ocorrência ou não do óbito, a pessoa que conviveu ou convive com dependente químico, precisa saber o quanto é preciosa à informação, a sua história, a sua dinâmica com o drama, pois esta, quando colocada de forma franca, ajuda outras pessoas que estejam vivendo na mesma condição.
Manter esta postura pode contribuir, quando ensina através das experiências vividas na prática, a enfrentar as tempestades, que sem dúvidas, são repletas de feridas e desilusões. A troca de informações, oferta discernimento SIM, como agir e ter atitudes com inteligência e estratégias.
O amparo, tanto para o usuário, como para quem “convive” com este é necessário, ou melhor, dizendo:- “de suma importância”, porque em muitos lares, com o passar do tempo, se desencadeia uma FOBIA, que gera angustia e ansiedade. Ouvir testemunhas, enfrentar os medos, aprender com lições de vida alheia, contribui e muito a lidar com os desafios de uma dolorosa realidade.
Romper contatos perpetua as dúvidas e pode acentuar um sério problema ao invés de esclarecê-lo ou resolvê-lo. Ás vezes com outras bases pode ser encontrando os elementos necessários para se refazer, recuperar as forças, tratar com amor e de forma racional aquele, dependente, que precisa se reencontrar.  Porém, para isso, é preciso perspicácia, muita força de vontade, argumentação, e adaptação.
Dizer não ás DROGAS, não basta!


eisFluências de Agosto de 2010




SER POETISA
©María Cristina Garay Andrade©

Muchas veces nos cuestionamos quienes nos dedicamos al arte por vocación de servicio asumiendo la realidad de un mundo materialista de consumismo frívolo y exasperado, si realmente vale la pena consagrarnos a ser artífices de la cultura.
En lo personal y en carácter de escritora de género ensayista y finalmente poetisa, el interrogante ¿para qué escribimos? es frecuente,  porque me siento habitando en un mundo incompatible con el que en realidad convivo, creando aislada un ambiente propicio para el despertar de las musas alejadas de ese infernal enjambre cosmopolita invadido por guerras, hambre, violencia, trivialidades de estereotipos y bastante insubstancial visto bajo mi franqueza de criterios.
Algunos conceptos vertidos creo que un poco erróneos, ser artista es tildado como una conducta bohemia y reprochable, no se lo ve entonces como un trabajo de construcción intelectual de amplia contribución a la cultura, tal vez resulte de llevar una vida nocturna que optamos la mayoría de las/0s protagonistas. Admito que adoro las noches para concentrarme en ese estímulo especial que hace brotar espontáneamente en sortilegio el enlace entre la inspiración y la rima.
Es mejor visto ir a trabajar tras un escritorio por dar un mero ejemplo, que sentarse a escribir sobre el amor como utopía, y sin embargo que grato nos resulta leer a Amado Nervo, Las Rimas de Bécquer, Alfonsina Storni y otras/os.
En todas las épocas siempre resultó difícil la gestión artística por eso siempre existieron y existen aun los llamados mecenas impulsores del arte. En la actualidad  no falta el buen consejo de un facultativo que como relax y para quitarnos el estrés resulta óptimo leer un libro que beneficie nuestra autoestima, visitar una exposición de cuadros o admirar esculturas como las Fuentes de las Nereidas de Lola Mora en mi país.
Como haríamos para aprender si no hubiera quien escribiera libros de enseñanza, como haríamos para evolucionar la ciencia si no hubiera científicos que documentaron sus descubrimientos o sus hipótesis. ¿Existiría la filosofía, si Aristóteles no hubiera dejado por escrito sus tratados?  Es evidente que el arte genera progreso en la humanidad pero le falta ese reconocimiento planetario para darle la misma solvencia a quien quiera desarrollarse como artista, científico, investigador, etc.
Es lamentable pero finalmente los gobiernos darán mas presupuesto para fabricar misiles o armas químicas que para editar un libro de poemas.
En la historia de las antiguas sociedades lo que se ha hecho imperecedero y podemos llegar decir que resulta hasta  inmortal es el arte en todos sus oficios, pues a través del genio creador hemos podido vislumbrar culturas milenarias estampadas en piedra de esculturas, pinturas y escrituras que nos da en conclusión que el mensaje a perpetuidad  fue dado invariablemente a través del arte.
Los avances en la actualidad siguen buscando antecedentes de pasados que hayan dejado marcados vestigios de la humanidad más remota hasta nuestros días y no hay nada más asombroso que eso suceda con los descubrimientos  en excavaciones arqueológicas en busca de esos tesoros culturales que terminan siendo una noticia destacada por el hallazgo con gran resonancia.
¿Como hubieran hecho las sociedades prehistóricas para dejar sus huellas si no hubiere sido a través del arte esculpido en la roca? No hubiéramos podido conocer nada de nuestros antecesores.
Pareciera entonces que incursionar en el arte es un trabajo de oficio, dedicar a la cultura la facultad que por naturaleza y disciplina intentamos de diferentes formas legar al mundo es perpetuidad de civilización.
Adquirir fama o renombre internacional no estaba fijada en mi mente como un objetivo final, ni pretendo llegar a ser un Best Sellers o mucho menos un premio Nobel de Literatura, escribo sencillamente porque me nace espontáneamente y me cautiva hacerlo desde muy jovencita. A estas alturas de mis acumuladas primaveras es determinación disfrutarlo como consagración exclusiva por el resto de mis días.
Resulta a consecuencia de esta decisión alegar al ver hoy que soy reconocida internacionalmente según marcan los mapas que definen mis blogers en forma creciente en muchas partes del mundo, la mayoría de habla hispana pero así también en otros países de disímiles idiomas, sorpresa que reconforta mi espíritu e incrementa el estimulo de seguir por este camino.
A todas esas personas mi profunda gratitud por el empleo de su tiempo en leerme, quiero remarcarles que no significan un puntito rojo en el mapa virtual del blog imprimiendo frías estadísticas de visitas, sino todo lo contrario representan almas que entran en mi frecuencia y por tal concordancia deseo que les llegue mi fraternal amor por esa dedicación especial a quien les esta escribiendo.

¿Qué es ser poetisa entonces?

Ser poetisa es en cada mujer tener un estilo propio, una marcada personalidad y una formación filosófica en un horizonte de infinitos matices verbales.
Ser poetisa tiene innumerables percepciones casi imposible de describirlas todas, es como si un ángel a nuestras espaldas nos cubriera de sensibilidad los sentidos potenciando lo sublime que tiene el amor.
Ser poetisa es el símbolo de la feminidad del alma dando su opinión bajo otros conceptos de ver la vida.
Ser poetisa es libertad de pensamiento, ingenio y talento.
Ser poetisa es capacidad de creación y habilidad para hablarle al mundo sin temores ni condicionamientos.
Ser poetisa es autonomía, práctica diaria, es constancia y es introspección.

Rimarle al amor es una de mis grandes pasiones, esas musas, diosas inspiradoras de la música y las letras hacen la delicia de mi vida.
Tal como le escribo al amor así lo concibo.
________
Monte Grande – Buenos Aires – Argentina

eisFluências de Junho de 2010




A Experiência do Rio
Dr. Adauto Suannes – São Paulo/ Brasil

“A verdade é que apenas Deus pode conhecer Deus.”
(Joseph Campbell)

As religiões orientais geralmente não se atrevem a definir Deus, ao contrário do que ocorre com os ocidentais, menos cerimoniosos, menos humildes, mais atrevidos e mais racionais. Falar d’Ele diretamente nem pensar, tudo são imagens, parábolas e coisas assim, como o caso de alguém que perguntasse ao sábio que é a Lua? e tudo o que o sábio fizesse fosse estender seu dedo indicador dele sábio ali diante dos nossos olhos curiosos, que lhe vêem os pelos do sobredito dedo, seu tarso mais o metatarso, a unha e sua eventual sujidade, coberta ou não por providencial esmalte sangüíneo ou de cor outra mais atrevida, mas a Lua mesmo, nada! Que é da Lua, mestre? E o dedo continua a apontar e o sábio diz: vai e vê. E quando nós olhamos adiante do dedo que nos indica o caminho, lá está uma foice sem cabo que se vai esvaindo até ficar o nada lunar no céu de nossa indagação ignorante. Que é da Lua, mestre? Vai e vê. Mas se não vejo nada? guarde pacientemente, que ela lhe ressuscitará.  Primeira idéia: crer é ver a Lua que não está lá. E olha eu agora mirando o rio ali defronte, riacho heraclitano que se atravessa a vau e onde o sol despeja aqueles ouros lá dele e nós sem saber qual a cor do rio nem o sabor do rio a não ser atravessando, com as águas batendo-nos nas magras canelas, meio e modo de conhecer Deus. Quer conhecer Deus? diz-nos o sábio, banhe-se nele. E agora que vadeaste de cá para lá, certamente pensas que conheces o rio. Conheces nada!, que as águas então vadeadas não mais estão ali, senão lá mais embaixo, cem ou duzentos metros, talvez quilômetro, sendo atravessada agora por outras pernas, talvez de nossos netos, que também pensarão que já experimentaram suficientemente Deus, tanto quanto nossos tios e avós que cruzaram o sempre rio lá perto do seu nascedouro tempo faz. E se vadeares de lá para cá descobrirás que tuas canelas, já enriquecidas e satisfeitas da experiência anterior do rio, talvez não se abram à nova experiência que é experimentar esse novo rio, pois as águas agora são outras, não vê que aquelas antigas já lá estão longe? Sem falar que o rio não são só águas, senão que peixes muitos, dúzias e dúzias, e mais aquelas pedrinhas, mais de centena, talvez milhar, que o passar do rio, no rio e através do rio e a decorrente experiência que elas assim façam vai delas aparando as arestas do egoísmo e da irritação, da indiferença e da impaciência, e lá vão elas se casando umas com as outras, roliças de virtudes e paciência, respeitando o modo de ser uma das outras, na convivência que se supõe decorrer da harmonia grávida de virtudes.
E se pensares que a experiência humana do rio se faz apenas com as canelas, pobre de ti! Repara na apalpação das pedrinhas que teus pés fazem quando vais e quando vens. Sentes cada pedra? Sabes o tamanho de cada uma? Sua cor? Sua forma? Sabes nada! Saberás acaso quais as pedras que pisaste quando foste e quais as que estás a pisar agora que retornas na nova experiência do rio? Certamente não. E não é só com a sola dos pés e as canelas anuecidas que se experimenta o rio, senão que também com a bunda, atente para isso. Quem te garante que teus pés não escorregarão nessas idas e vindas e quando vês estás lá estatelado no meio daquele corguinho que é o rio mas não é todo o rio? E tuas nádegas lanhadas te ensinarão coisas do rio que nem o frescor da água na canela, nem o confundir-se ele com a cor da poeira dourada que o sol lhe derrama, nem o cheiro bom da água não lhe haviam ainda proporcionado a você.
E aquilo ali é rio mas não é todo o rio. É rio porque ali há água, mas não há toda a água; há peixes, mas não há todos os peixes; há pedregulhos, mas não são todos os possíveis pedregulhos que ali estão naquele trecho que tuas canelas e teu corpo todo experimentaram na vadeagem e na revadeagem, nas idas e vindas a vau que é tua pálida experiência do rio.  E como juntar todos os peixes, e toda a água, e todos os pedregulhos para que saibas como é efetivamente o rio? Como ver ao mesmo tempo o nascimento do rio, seu caminhar por leitos planos e pedregosos, ora calmos ora cascateiros, límpidas aqui sujas ali suas águas, sua espuma e sua planície, e o seu findar, quando se finda? Quanto mais subas ao espaço para buscar essa visão de pássaro, mais longe estarás do rio e tudo o que verás será sempre um pálida imagem do rio em sua inteireza. Uma fotografia, sem vida nem cheiro, quase uma caricatura. E haverá quem diga que aquilo é um rio! Que inocência! Pensa em tuas pernas jovens e fortes a pisar firme o chão daquele solo líquido que tua experiência agora perfura, tal como já fizeste um dia outrora. Será o pisar de hoje tão forte como o foi o de ontem? Será a correnteza de hoje menos calma do que era a de ontem? E como ficarás quando o titubeio da incerteza te atrasar os passos, por não teres reparado que as pernas já não são as mesmas, e, de fato, não no são, nem as águas já não são as mesmas, como de fato também não são? És o mesmo mas não és mais o mesmo; mesmas são as águas mas as mesmas águas já não são as mesmas; repete-se a mesma experiência que já não é a mesma experiência. Tudo tão velho e conhecido, mas, também, tão novo e desconhecido ainda.
Segunda idéia: a experiência de Deus é a travessia diária, sem saber se o atrevimento do afoito ou a fragilidade das pernas não fará daquela a derradeira travessia, a travessia que não se completará. E tropeçarás, como todos um dia tropeçamos; e cairás e serás envolvido pelas águas; e talvez te levantes e etomes a caminhada, para concluir mais esta travessia.  Ou talvez não seja mais o caso de te levantares. E como os peixes e os pedregulhos, te confundirás com as águas, que te levarão e farão do destino delas o teu destino.
E o rio que agora caminha é apenas rio, embora nele estejam os peixes, os pedregulhos e estejas também ali tu, tudo indistinto. E o rio chegará ao seu fim que não será propriamente um fim, mas um despejar-se num rio muito maior, oceânico e eterno.  E agora que chegamos, onde estão os peixes? Quais as pedras que se acamaram?
Que é feito do rio? Onde estás tu?